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28 de nov. de 2011

Profetas de Aleijadinho são digitalizados em Congonhas

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Tecnologia de ponta para a preservação de um patrimônio mundial está sendo usada pela primeira vez no Brasil. No dia 21/11/2011, o conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário de Nosso Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, MG, Patrimônio Cultural da Humanidade, receberá o que existe de mais moderno em tecnologia de digitalização em 3D (três dimensões) e robótica para ajudar na preservação dos Profetas esculpidos em pedra-sabão, de autoria de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.


Para discutir a aplicação de tecnologia de ponta em peças do patrimônio será organizada uma mesa-redonda aberta ao público no dia 22/11 (terça-feira), às 14h, na Escola municipal Fortunata de Freitas Junqueira, em Congonhas, na Praça Santo Afonso 90, Basílica. A mesa-redonda é intitulada “Tecnologia 3D e robótica na preservação do patrimônio”.


O processo de digitalização em 3D está sendo realizado desde o início do ano pelo Grupo Imago, da Universidade Federal do Paraná, autor de um sistema completo para reconstrução de objetos de acervos culturais que vem recebendo reconhecimento internacional. Das 12 esculturas que compõem o conjunto, cinco já foram digitalizadas por esse sistema. Para a digitalização das sete restantes, em posição de difícil acesso, a multinacional italiana Comau (empresa do Grupo Fiat e referência em automação) foi convidada pela UNESCO para compor o projeto. Pela primeira vez no mundo, um robô industrial utilizado em linhas de produção, como de automóveis, será usado em um projeto de preservação de obras de arte. O uso da tecnologia de automação permite maior precisão e acessibilidade no processo de captura das imagens dos profetas, maior rapidez no deslocamento do equipamento usado e, principalmente, maior segurança para o monumento.


Orçada em R$ 330 mil, a digitalização em 3D dos profetas de Congonhas está sendo financiada pela Lei Rouanet por meio do projeto Memorial Congonhas – Centro de Estudos da Pedra e do Barroco. O projeto é uma iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, implementado em conjunto com a Prefeitura Municipal de Congonhas e a UNESCO no Brasil, e conta com o patrocínio do Banco Santander, Gerdau Açominas, CSN - Cia Siderúrgica Nacional e Vale. 


Tecnologia e patrimônio A nova tecnologia de digitalização em 3D possibilitará, dentre outros, a visualização dos profetas de Aleijadinho em meio digital, no Memorial Congonhas ou pela internet; o uso na preservação e restauro das obras; o monitoramento do estado de conservação das peças frente à ação do tempo; o estudo minucioso da obra e a compreensão das técnicas utilizadas pelo artista e, finalmente, a produção de réplicas com grande precisão, em casos de necessidade.

O processo de preservação digital em 3D compreende três etapas principais: 1. a captura de diversas vistas do objeto (escultura) por meio de um sistema de aquisição de imagens 2D e 3D, que utiliza um scanner laser e uma câmera de alta resolução; 2. a integração destas imagens capturadas para a reconstrução da geometria e textura do objeto; e 3. a geração do modelo final em 3D com alta resolução para ser visualizado em um ambiente virtual. Até o momento já foram digitalizados cinco profetas: Joel, Daniel, Jonas, Ezequiel e Oséias.

Nesta etapa do projeto será usado um manipulador telescópico, equipamento utilizado para manipulação e içamento de cargas. Posicionado em frente ao adro da Basílica, irá erguer o robô NJ 110, da Comau, até a altura dos profetas. O robô, que tem um escâner 3D adaptado em sua extremidade, irá percorrer automaticamente toda a superfície das obras. Os dados coletados pelo equipamento serão enviados a um computador que reúne as informações e imagens captadas, gerando uma cópia digital em altíssima resolução das esculturas.

Para garantir a segurança e integridade das obras, sensores a laser foram desenvolvidos para impedir que o robô ultrapasse um limite de segurança e mantenha sempre a mesma distância dos profetas. O processo será todo executado à noite para garantir a luminosidade uniforme na coleta das imagens.

A possibilidade de utilizar essa nova tecnologia na preservação do patrimônio cultural brasileiro entusiasma Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan. Para ele, “é importante que a tecnologia seja cada vez mais utilizada para garantir a preservação e conservação dos bens culturais, aliada aos meios tradicionais. A digitalização dos profetas é um marco nas ações de preservação do patrimônio brasileiro”.
Memória e FéO Memorial Congonhas está localizado em uma área de 3.452,30 m² próxima ao conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário, com previsão de conclusão para junho de 2012. O espaço reunirá uma Exposição Permanente com informações sobre o conjunto arquitetônico e escultórico, em seus aspectos históricos, artísticos e religiosos; um Centro de Estudos da Pedra, que funcionará como uma rede de articulação de instituições de pesquisa, ensino e extensão, para a difusão do conhecimento sobre as rochas, monitorar a integridade das esculturas do Santuário e aprimorar as técnicas de conservação e restauração; e um Centro de Referência do Barroco, que terá área de pesquisa e de documentação e uma biblioteca especializada.

Para o prefeito do município de Congonhas Anderson Cabido, a criação do Memorial representa um diferencial para o desenvolvimento sociocultural da região. “Além disso, o novo espaço, com suas linhas modernas, fará um contraponto com o ambiente barroco e o majestoso universo de Aleijadinho, compondo um quadro surpreendente.”
O Memorial e os ProfetasO conjunto dos profetas do Antigo Testamento é composto por 12 monumentais figuras esculpidas em pedra-sabão no início do Século 19 e está localizado ao longo dos muros e escadarias do Santuário de Nosso Bom Jesus de Matosinhos. O conjunto foi tombado pelo Iphan em 1939 e reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial em 1985.

A ocorrência de lesões à pedra causadas por fungos e bactérias e algumas marcas de vandalismo sempre provocaram frequentes debates sobre a possibilidade de remoção dos profetas para um local protegido. No entanto, até o momento prevalece a convicção de que o mais relevante é tomar medidas de prevenção e conservação, não só visando os profetas de Congonhas, mas todos os monumentos e elementos decorativos em pedra.

O projeto do Memorial Congonhas vem produzindo novos conhecimentos para a conservação de monumentos em pedra, por meio de ações coordenadas pela UNESCO no Brasil, em especial para a produção de réplicas digitais das esculturas, além da atualização da técnica de produção de réplicas físicas. As réplicas são uma medida de segurança essencial para se reproduzir as peças em caso de danos irreversíveis aos originais.

Réplicas por quê? Os profetas de Congonhas têm moldes feitos em várias épocas, em especial nas décadas de 1970 a 1980, que não apresentam mais as condições necessárias para a reprodução. Por essa razão, estão sendo feitos novos moldes em meio eletrônico (digitalização em 3D) e em forma flexível de silicone, possibilitando a produção de cópias em gesso, pedra ou resina.

Para Jurema Machado, coordenadora de Cultura da UNESCO, “a confecção desses moldes virtuais, além de oferecer insumo fundamental ao Memorial e à segurança das peças, será uma oportunidade de utilização da tecnologia para o intercâmbio de conhecimento entre instituições acadêmicas e de preservação brasileiras.”
Produção de réplicas físicasA produção das réplicas físicas dos profetas está em andamento utilizando formas flexíveis até então não experimentadas para a reprodução das esculturas do conjunto de Congonhas. Inicialmente é feito um molde em silicone, estruturado por uma contraforma rígida de resina de poliéster e fibra de vidro. A partir deste molde, é produzida uma cópia de resina e pó de pedra e uma cópia de segurança em gesso-pedra para permanecer como registro, documentação, referência e matriz. Assim, no futuro, havendo necessidade de outro molde, essa matriz será usada, e não a peça original.

Até o momento já foi concluído o molde do Profeta Joel e encontra-se em andamento o do Profeta Jonas. O molde, a cópia de segurança e a réplica em resina poliéster serão armazenados na reserva técnica do Memorial Congonhas. Esse trabalho está sob a responsabilidade dos restauradores João Cristelli e Deise Lustosa de Belo Horizonte, MG.



Retirado da Revista Museu

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